Revista Adultos 4° trimestre 2023

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Uma análise do movimento G-12 (por um pastor Batista)


REFLEXÕES DE UM PASTOR BATISTA
Ordem dos Pastores Batistas do Brasil - Secção do Estado de São Paulo
Pastor Alberto Kenji Yamabuchi
INTRODUÇÃO
Recebi o convite de nossa digníssima Ordem dos Pastores Batistas para tratar do tema “Uma análise do movimento G-12” com alegria e temor. Com alegria, pois é sempre uma honra servir à denominação. Com temor, pois julgo que eu não tenha todas as condições necessárias para trabalhar esse assunto tão discutido em nosso meio nesses últimos tempos. Não obstante, espero, com a ajuda do Senhor nosso Deus, atender às expectativas dos prezados colegas de ministério.
Este trabalho reúne as minhas reflexões sobre o tema à luz do meu conhecimento da prática pastoral batista. Não pretendo aqui ferir ninguém e nem menosprezar o direito e a liberdade que cada indivíduo goza no que diz respeito à sua consciência e à manifestação de sua fé. Até porque tal procedimento, além de ser deselegante, feriria o que está assegurado pela Constituição Brasileira que em seu artigo 6º declara:
É inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo assegurado o livre exercício dos cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a proteção aos locais de culto e as liturgias.[2]
Creio ser desnecessário lembrar que esse artigo encontra eco em um de nossos princípios batistas: o da liberdade religiosa e de consciência do indivíduo. A esse, podemos acrescentar o princípio da igreja como comunidade local, democrática e autônoma, porque nós, batistas, sempre legitimamos as decisões tomadas por qualquer igreja local em suas assembléias legais.
Referi-me a esses princípios batistas nesta introdução para expor a minha preocupação e o meu cuidado nos meus comentários sobre o Movimento G-12, porque sei que há casos de pastores e igrejas de nossa Convenção Batista Brasileira que aderiram – no linguajar do G-12 – à “visão” de células. Pretendo apenas, com as minhas reflexões, fazer um apelo à razão através do apontamento das implicações desse movimento na teologia prática batista.
Para apresentar um trabalho mais aprofundado sobre o G-12, creio que o pesquisador mais capacitado para essa tarefa é o pastor PAULO ROMEIRO, [3] doutor em Ciências da Religião e um dos maiores apologistas cristãos da atualidade. Por isso, não investirei tempo na explanação dos detalhes do G-12, até porque ao longo destes últimos anos, esse movimento tem sofrido alterações na forma e na ideologia. Reconheço que ainda há muita desinformação, boatos e distorções sobre o G-12. No entanto, há também muitos dados bem conhecidos e documentados sobre esse movimento. Procurei, então, firmar minhas reflexões e considerações finais sobre aquilo que a maioria das minhas fontes de pesquisa concorda. Também busquei não valorizar as histórias não comprovadas que vieram ao meu conhecimento durante a minha pesquisa sobre o assunto.
Assim, este trabalho consiste principalmente da exposição resumida e comentada das principais características do G-12 e de algumas conclusões que tirei do meu trabalho “G-12 – Novo Discipulado ou Novo Movimento Religioso?”, [4] que apresentei em cumprimento às exigências da disciplina Novos Movimentos Religiosos do Curso de Mestrado em Ciências da Religião da Universidade Metodista de São Paulo, em Junho de 2001.
I – G-12
Quando estudamos os novos movimentos religiosos que surgem em nosso meio, observamos a profunda necessidade que o homem tem de lidar com o sobrenatural. Apesar da cultura secularizada transmitida pelas últimas gerações, é impressionante como cresce esse interesse da sociedade pelo divino, pelo transcendental.
Essa busca pelo sobrenatural pode ser o resultado da constante insatisfação espiritual do homem pós- moderno, geralmente inclinado a rejeitar as tradicionais formas de se lidar com o sagrado, cujo poder está nas mãos da religião oficial e por isso contra ela se rebela. E isso é percebido também no meio cristão, como bem observa um grupo de pastores presbiterianos que analisou o Movimento G-12:
Cremos que os movimentos religiosos, em pequena ou larga escala, ganham corpo como vozes de insatisfação contra o cristianismo vigente incluindo a fragilidade das convicções doutrinárias e a distância entre a proclamação da verdade teórica e da praticidade da mensagem.[5]
Segundo o coração de alguns, um novo universo simbólico e sagrado precisa ser construído, explorado e experimentado contra uma aparente esterilidade do cristianismo histórico, para dar um sentido diferente à vida. Mas até mesmo essa procura é marcada pela superficialidade, pois o interesse está focado na satisfação imediata de necessidades mais mundanas que espirituais. Não é à-toa que essa busca do “novo” em termos espirituais provoca uma tal agitação no mundo religioso, que poderia ser classificada entre as grandes forças sociais de nossa época.
Dentre as novas agitações espirituais no meio cristão, destacamos aquelas que vêm do movimento neopentecostal. No Brasil existem ramos do neopentecostalismo que, na ânsia de se buscar o sagrado de forma diferenciada e/ou de atrair uma multidão de fiéis, tentam dialogar tanto com o cristianismo histórico (catolicismo-romano, protestantismo) como com o misticismo e esoterismo (Nova Era, religiões afro- brasileiras). Além disso, esses ramos têm um forte discurso proselitista, quase manipulador, que atrai os sedentos por novidades místicas, o que explica o seu crescimento notável e seu avanço em todos os segmentos de nossa sociedade.[6] E foi dentro dos arraiais do neopentecostalismo que encontramos a origem do Movimento G-12.
Embora importado de outro país latino-americano, a Colômbia, o G-12 encontrou no Brasil, principalmente no meio neopentecostal, terra fértil para o seu crescimento. A versão brasileira caracteriza-se pelo tom fundamentalista em suas pregações, com ênfase na experiência pessoal, além de forte misticismo em suas práticas pastorais. Em pouco tempo, o G-12 das igrejas neopentecostais alcançou os fiéis de algumas igrejas cristãs históricas.
1. O que é o G-12?
O G-12 é um “novo”movimento que se introduziu inicialmente no seio do neopentecostalismo, com o propósito de provocar o crescimento das igrejas evangélicas através de pequenos grupos conhecidos como células. Essas células atuam em reuniões nas casas dos fiéis e geralmente são compostas por doze pessoas. O número doze refere-se ao modelo do discipulado de Jesus Cristo, que separou para si doze homens para instrução, capacitação e testemunho das Boas Novas.
O G-12 nasceu de uma visão do pastor César Castellanos Dominguez, pastor-fundador da “Missão Carismática Internacional” da Colômbia. Castellanos afirma ter recebido essa “nova e direta” revelação de Deus a respeito da Igreja cristã do novo milênio, no ano de 1991. Segundo esse pastor, o G-12 é o novo e último modelo de crescimento para a Igreja. Castellanos afirma que:
“… o princípio dos doze é um revolucionário modelo de liderança que consiste em que a cabeça de um ministério seleciona doze pessoas para reproduzir seu caráter e autoridade neles para desenvolver a visão da igreja, facilitando assim a multiplicação; essas doze pessoas selecionam a outras doze, e estas a outras doze, para fazer com elas o mesmo que o líder fez em suas vidas”. [7]
O modelo dos 12 funciona como um processo de crescimento espiritual e ministerial, que é chamado de “Escada do Sucesso”. Ele compreende quatro degraus ou etapas:
Envio
Treinamento
Consolidação
Evangelização
A Evangelização ocorre nas células. O número base é de 12 participantes por célula. Quando a célula alcança o número de 24 pessoas em suas reuniões, ela precisa se subdividir para manter o número 12. A célula é responsável pelo ensino e formação dos discípulos. Os cultos no templo da igreja se transformam em celebrações.
A Consolidação é a etapa da confirmação da fé do indivíduo. Isso ocorre nos encontros. Lá, o novo convertido passa pela libertação e quebra de maldições. Nesses encontros, a pessoa também é doutrinada na visão dos 12. São três tipos de encontros: o pré-encontro, o encontro e o pós-encontro. Os líderes de células são formados nesses encontros.
O Treinamento é oferecido pela escola de líderes de cada igreja. Os novos discipuladores são capacitados para dirigir as células e difundir a visão dos 12. Cada seguidor do G-12 tem uma meta de 144 discípulos.
O Envio é a etapa final, quando os novos líderes assumem a liderança de grupos em células, com a missão de preparar outros discipuladores.
Além dos encontros, vários eventos também são realizados para promover o G-12. Por exemplo, em Junho de 2000, em Sumaré, no interior de São Paulo, foi realizado o “I Congresso Nacional do G-12”com mais de mil participantes. Esse congresso foi organizado pela Igreja do Evangelho Quadrangular, “a primeira grande denominação brasileira a aderir oficialmente ao movimento”. [8]Essa denominação neopentecostal possui 1,3 milhão de fiéis e está entre as cinco maiores igrejas evangélicas do Brasil, segundo a revista Superinteressante. [9] A “II Convenção Anual no Brasil de Igrejas em Células no Modelo dos 12” aconteceu no Ginásio do Ibirapuera, em São Paulo, entre os dias 29 de junho e 2 de julho de 2000 e contou com mais de nove mil participantes. Nos dias 6 a 9 de julho de 2000 foi realizado o “I Congresso de Crescimento da Igreja na Visão Celular” em Volta Redonda, no Estado do Rio de Janeiro. O preletor foi o pastor[10] Renê Terra Nova, de Manaus – AM, “… pastor que tem influenciado a igreja evangélica brasileira com divulgação da visão da Igreja Celular no Modelo dos 12”. [11] Esses eventos provam o quanto tem crescido o movimento em solo brasileiro.
Os maiores representantes do G-12 no Brasil são: Renê Terra Nova, Valnice Milhomens e Roberto Tavares[12]. Segundo a Revista Eclésia, esses três líderes brasileiros fazem parte do seleto “grupo de 12 diretamente ligado ao líder colombiano” [13] e são os divulgadores oficiais da visão G-12 no Brasil.
2. Referenciais teológicos do G-12.
O G-12 ampara suas práticas em ênfases teológicas que combinam liderança carismática, fundamentalismo cristão, doutrinas neopentecostais, manipulações psicológicas e misticismo. Essa abrangência facilita a cooptação de novos adeptos, a maioria proveniente de outras igrejas cristãs. Além disso,
O G-12 é um movimento que não propõe a filiação de seus participantes à igreja realizadora do evento. É possível ser um dos doze de algum discipulador e permanecer membro de uma igreja histórica que não tenha se enquadrado no modelo, por exemplo. Dessa forma, o movimento, através de seus Encontros, tem uma penetração mais eficiente no seio das igrejas, e permite aos líderes da região exercer controle sobre membros de outras igrejas sem que eles se desvinculem das mesmas. [14]
Se for assim, podemos entender como a visão dos 12 consegue encontrar, sutilmente, lugar em meio às nossas fileiras.
Segundo ROMEIRO, [15] o G-12 tem em Kenneth Hagin, um expoente da Teologia da Prosperidade, e em Peter Wagner, um “especialista” em guerra espiritual, os seus referenciais teológicos principais. Kenneth Hagin é também o referencial de R. R. Soares, cujos programas televisivos têm alcançado de maneira impressionante a atenção do povo evangélico. [16] Os ensinos de Soares encontram eco no movimento G- 12.
Quanto ao modelo de igrejas celulares, “o líder colombiano confessa que foi grandemente influenciado por David (Paul) Yonggi Cho, da Coréia”. [17]Castellanos “visitou a Coréia em 1986 e, por sete anos, trabalhou com o sistema de células de Cho. A partir das experiências com os pequenos grupos de Cho, Castellanos incrementou (em 1991) uma nova estratégia”.[18] Segundo a Revista Eclésia, a igreja de Cho, a “Full Gospel Church”na Coréia do Sul, era, em 2000, a “maior igreja evangélica do mundo, com mais de 600 mil membros”, [19] e tinha atingido essa marca usando o modelo de células ou grupos familiares. Nessa mesma época, Castellanos pastoreava uma igreja com “170 mil membros e 15 mil células, ou grupos familiares”. [20]
O G-12 estabelece a forma episcopal de governo da igreja e assim estimula a construção de uma pirâmide hierárquica e centralizadora de poder. Isso está bem distante do nosso modelo eclesial batista.
3. Principais características do G-12.
(a) Exclusivismo.
O G-12 é, para seus defensores, a última solução para a Igreja do novo milênio. Por isso, para eles, o movimento merece toda a atenção e exclusividade. O próprio Castellanos reforça essa idéia em seu depoimento:
Em várias oportunidades encontrei-me com alguns dos convertidos em diferentes lugares, que me diziam: “Pastor, eu conheci o senhor na missão, mas estou congregando em tal igreja”. Eu dizia: “Amém, glória a Deus, esta alma não se perdeu, está sendo edificada!” No entanto, chegou o dia em que Deus chamou minha atenção, dizendo-me: “Estás errado; essa alma eu a trouxe à tua igreja. Se tivesse querido mandá- la a outra igreja tê-lo-ia feito. Enviei-a para ti para que cuides dela e espero que me respondas. [21] [grifo meu]
Essa atitude tem implicações soteriológicas: para os gedozistas, a salvação de alguém só estará garantida se foi conquistada nos encontros através da regressão, quebra de maldição, cura interior, negando assim o sacrifício perfeito de Cristo no Calvário. [22]
Para o G-12, os demais modelos eclesiais são, de certa forma, desprezados como se pode verificar nas palavras entusiasmadas de Castellanos:
A frutificação neste milênio será tão incalculável, que a colheita só poderá ser alcançada por aquelas igrejas que tenham entrado na visão celular. Não há alternativa: a igreja celular é a igreja do século XXI. [23] [grifo meu]
O problema desse exclusivismo é a possível tendência à arrogância e àquilo que CAMPOS chama de “vedetismo pastoral”.[24] Provavelmente muitos líderes não estão percebendo que, quando saem em defesa do G-12, ficam reféns de suas próprias palavras que os lançam nas redes da vaidade e do orgulho. Por exemplo, um certo pastor Joel Pereira, em entrevista a um periódico evangélico, declarou:
O meu aproveitamento da Igreja era uma porcentagem de 33% de cada convertido, ou seja, cada 100 que eu convertia eu batizava 33, 34, era uma média muito ruim. Hoje eu tenho uma média de quase 100% de aproveitamento.[25] [grifo meu]
Seria ele o responsável direto pela conversão e batismo das pessoas? Talvez esse pastor nem tenha conscientemente pensado da maneira como interpretei suas palavras, mas é certo que seu testemunho pode gerar um certo constrangimento. A leitura que o povo simples pode fazer de sua declaração vai ao encontro de uma autoridade espiritual poderosa e inquestionável: o “ungido intocável”. Aliás, prega-se muito sobre a obediência à autoridade espiritual. O que é ser obediente segundo a visão do G-12?
É ter submissão à autoridade legítima; é se sujeitar e ter docilidade (dicionário Michaelis). Obedecer também não é concordar. Quantas vezes você não concordou com seu chefe, mas teve que obedecer?
A obediência tem um limite: até a morte (Fp 2:5). Não é para estabelecermos nossas próprias cláusulas, artigos, etc. Se procedermos em obediência sempre, teremos uma recompensa tremenda: seremos exaltados. [26]
Há um outro exemplo desse “vedetismo pastoral”: um pastor de nossa Associação Batista do ABC, ao defender sua adesão ao G-12, declarou do púlpito de sua igreja que não faria parte de nenhum ministério aquele membro que não concordasse com a mudança da sua igreja para a visão celular. Quando foi questionado no campo doutrinário, afirmou que ninguém naquela igreja conhecia mais teologia do que ele. [27] Sua igreja se dividiu. É comum encontrarmos igrejas divididas por causa da visão dos 12. Os exemplos mais recentes são os casos das igrejas batistas de Barretos e Rinópolis conforme o Jornal O Batista Paulistano. [28]
O próprio Castellanos também cai no mesmo vedetismo. Sendo, segundo ele mesmo, o “único” a receber de Deus a visão celular, ele entende que pode escolher e reunir ao redor de si doze discípulos “mundiais” [29] entre os quais estão os representantes brasileiros do G-12 que também são, do ponto de vista sociológico, líderes altamente carismáticos. Faria Castellanos o papel de Jesus, já que existem 12 subordinados a ele? Ele mesmo ensina que o G-12 é:
Um revolucionário modelo de liderança que consiste em que a cabeça de um ministério seleciona doze pessoas para reproduzir seu caráter e autoridade neles para desenvolver a visão da igreja… [30]
Se Castellanos é a cabeça do ministério, da visão do G-12, a quem ele se reporta? É muito tênue a fronteira entre tal disposição de liderança e aquilo que chamamos de messianismo. DESROCHE [31] ensina que há um tipo de fenômeno messiânico chamado “messias pretendido”, que é aquele em que o líder não reivindica diretamente para si o título de messias. Esse título lhe é atribuído pelos seus discípulos que podem chegar a mitificar sua pessoa, enquanto ainda personagem historicamente presente no cenário religioso. Uma das características de um messias, conforme DESROCHE, é a sua auto-deificação – no princípio negada, mas assumida de forma progressiva até alcançar uma consciência de messianidade. Exagero? Talvez. Mas não podemos deixar de imaginar que o modelo dos 12 oferece condições para esse risco.
Geralmente um fenômeno messiânico é precedido por um fato espiritual “explosivo”: uma profecia, uma visão, um sonho. A revelação de Deus a Castellanos foi assim descrita por ele:
Pedi a direção do Senhor, e Ele prometeu dar-me a capacidade de preparar a liderança em menos tempo. Pouco depois abriu um véu em minha mente, dando-me entendimento em algumas áreas das Escrituras, e perguntou-me: “quantas pessoas Jesus treinou?” Começou desta maneira a mostrar-me o revolucionário modelo de multiplicação através dos doze. Jesus não escolheu onze nem treze, mas sim doze. [32]
[1]Inscrito na OPBESP sob o no. 1641, é pastor auxiliar na Igreja Batista em Vila Gerte, São Caetano do Sul – SP, professor da Faculdade Teológica Batista de São Paulo, bacharel em Ciências Contábeis pela Faculdade de Ciências Econômicas de São Paulo, bacharel em Teologia pela Faculdade Teológica Batista de São Paulo, Mestre em Ciências da Religião pela Universidade Metodista de São Paulo e doutorando em Ciências da Religião. Publicado com autorização ©.
[2]Constituição da República Federativa do Brasil, Brasília, Senado Federal, 1988, p. 5.
[3]Ver ROMEIRO, Paulo. G-12: igrejas em células. São Paulo: AGIR, 2000.
[4]YAMABUCHI, Alberto Kenji. G-12 – Novo Discipulado ou NMR? Monografia. S. Bernardo do Campo: UMESP, 2001.
[5]G-12: uma tentativa de análises. . 01.03.2004.
[6]Por exemplo, a Revista Superinteressante de Fevereiro de 2004 registra que a IURD do bispo Macedo, fundada em 1977, possui hoje 2,1 milhões de fiéis com uma taxa de crescimento anual de 25,7%!
[7]CASTELLANOS, César. Liderazgo de êxito a través de los 12. Bogotá: Ed. Vilit, 1999, p. 148 apud SALGADO, Josué Mello. Dessacralizando a “visão”: uma abordagem crítica e desmistificadora do movimento “G-!2”. Brasília: [se], [sd], p. 1.
[8]FERNANDES, Carlos. G-12: revolução ou heresia? Eclésia.Ano V, no. 57, p. 19.
[9]GWERCMAN, Sérgio. Evangélicos. Superinteressante.Edição 197, p. 61
[10]Terra Nova e sua esposa Ana Marita ostentam hoje o título de apóstolos conforme . 01.03.2004.
[11]MACHADO, Rubem. Folha Mundial. Ano I, no. 3, p. 2.
[12]O nome de Tavares não consta na lista publicada em 20.02.2002 na de 01.03.2004. Em seu lugar consta o nome de Sinomar Fernandes.
[13]FERNANDES, Carlos. Opus cit, p. 19.
[14]BATISTA, Jôer Corrêa. Movimento G-12: uma nova reforma ou uma velha heresia? Fides Reformata 5/1 (2000). . 01.03.2004.
[15]ROMEIRO, Paulo. Opus cit, p. 5.
[16]YAMABUCHI, Alberto Kenji. Cura e poder na teologia de R. R. Soares: uma análise crítica à luz da Teologia Prática. S. B. Campo: UMESP, 2002.
[17]Idem, idem, p. 2.
[18]STEPHANINI, Valdir. Análise crítica do movimento G12. . 01.03.2004.
[19]FERNANDES, Carlos. Opus cit, p. 18.
[20]SALGADO, Josué Mello. Opus cit, p. 1.
[21]CASTELLANOS apud LIMA, Paulo César. O que está por trás do G-12: o que é, suas doutrinas, seus métodos, o que pretende. Rio de Janeiro: CPAD, 2000, p. 32.
[22]LIMA, opus cit, p. 39.
[23]CASTELLANOS apud ROMEIRO. Opus cit, p. 5.
[24]CAMPOS, Leonildo S. Teatro, templo e mercado: organização e marketing de um empreendimento neopentecostal. S. Bernardo do Campo: Vozes, 1999, p. 98.
[25]MACHADO, Rubem. Folha Mundial. Ano I, no. 4, p. 16.
[26]Estudo para o G-12: Obediência e renúncia: requisitos para um líder de êxito – Parte 2. . 01.03.2004.
[27]DOSSIÊ DA PIB BAETA NEVES. Associação Batista do ABC e Ordem dos Pastores Batistas do Brasil – Seccional ABC, Novembro de 2003.
[28]ROCHA, Vieira. Alguns estragos do G12 e de suas “renovações”. O Batista Paulistano. Ano 95, no. 1, p. A5.
[29]Os 12 internacionais já escolhidos por Castellanos pertencem aos seguintes países: Austrália, Brasil, Canadá, Chile, Colômbia, Escócia, Inglaterra, Itália, Coréia, Peru, Portugal, Porto Rico, República do Casaquistão, Suíça e Estados Unidos. São 15 países e não 12 porque, segundo Castellanos, “serão levantados vários grupos de 12 internacionais”. . 01.03.2004.
[30]CASTELLANOS apud SALGADO. Opus cit, p. 1.
[31]DESROCHE, H. Dicionário de Messianismos e Milenarismos. S. Bernardo do Campo: UMESP, 2000, p. 32- 37.
[32]CASTELLANOS apud ROMEIRO, opus cit, p. 3.

2/2 - Uma análise do movimento G-12
continuando…
Castellanos diz ter recebido essa revelação especial de Deus e parece também ser capaz de oferecer as mensagens divinas aos seus discípulos mundiais, como podemos verificar em sua “profecia” dada ao pastor Terra Nova, em Porto Seguro, Brasil:
O Espírito do Senhor diz: porquanto tens tido sempre em teu coração o desejo de amar meu povo Israel, de abençoá-los e de mover as pessoas para que amem o meu povo, Eu te abençôo. E parte da bênção que tenho te dado é que entendas a visão. Filho, não temas nem as críticas, nem aos elogios, porque tenho te dado ouvidos, mas quero que sejam surdos a toda crítica.
Quero dizer-te que te levarei a outras nações. Tu estarás pregando na Europa, na África, na Itália; também te levarei a Austrália, também pregarás no Japão, na China, na Rússia, ó filho, porque tenho me agradado. Siga avançando com a visão; não te detenhas, corra com êxito, avança, porque tenho te escolhido, diz o Espírito de Deus. [1]
A visão de Castellanos foi “canonizada”por seus adeptos, graças a profecias como essa acima. “A visão cura feridas, sara o povo e restaura o sacerdócio” (Renê Terra Nova); “este modelo é para todas as igrejas e veio para ficar” (Valnice Milhomens). O G-12 é “a única tábua de salvação para a igreja, o último movimento de Deus na terra, a única solução para a salvação das almas”. [2]Por isso, quem não aceita a visão do G-12 é praticamente anatematizado. Para os defensores do G-12, quem rejeita a visão está sob o domínio de satanás. Leiamos a resposta de Valnice Milhomens a um leitor que lhe perguntou por que as igrejas Renascer e Universal do Reino de Deus são contra o G-12:
O motivo é falta de conhecimento do modelo. Satanás encarregou-se de entrar no meio para confundir, denegrir, afastar os pastores da visão. Ele anda extremamente nervoso porque ver todos os fins de semana milhares de vidas passando por uma profunda experiência de arrependimento, libertação, cura, enchimento do espírito … é dose elevada para ele. Estamos em guerra cerrada contra o inferno. Vamos abençoar nossos amados irmãos que combatem a visão, orando: “Pai, perdoa-os porque não sabem o que dizem”. [3]
DESROCHE ensina também que há diferentes tipos de reinados messiânicos. Quero destacar o que ele escreve sobre o reinado do tipo religioso ou eclesiológico:
É dominado por um projeto de reforma religiosa ou cultural. Mas esse projeto nunca deixa de ser acompanhado de uma greve sócio-religiosa mais ou menos radical contra o mundo existente. No mínimo, greve dos “cultos”dominantes. No extremo, venda de todos os bens e rejeição do trabalho, como no caso da expectativa adventista primitiva. Ocorre, com freqüência, o engajamento numa vida “fora do mundo” através da criação de conventículos. [4]
Observemos como o G-12 se afina com esse tipo de reino messiânico: em primeiro lugar, o G-12 se propõe ser a restauração da Igreja nos moldes da Igreja primitiva em Atos dos Apóstolos. Todos os demais modelos eclesiais são reputados como obsoletos ou ultrapassados. Os encontros tornam-se “conventículos”, em ambiente “fora do mundo”, onde os ensinos são cercados de mistérios e segredos.
Mesmo que essa relação com o messianismo seja negada por Castellanos e seus defensores, não se pode negar que existam traços característicos desse fenômeno na visão do G-12.
Passarei agora às práticas e ensinos do G-12 em seus encontros.

(b) A prática da regressão psicológica.
 
Embora seja de natureza psicoterapêutica, não há consenso entre os profissionais da saúde mental sobre a eficácia da regressão psicológica na cura das pessoas. LIMA ensina que a regressão “como terapia, nada mais é do que evocar sentimentos, traumas, tensões, que ficaram retidos no inconsciente”. [5] No G-12, a regressão psicológica é realizada nos encontros, onde o líder poderá manipular as lembranças, emoções e traumas do neófito de tal maneira que todo o passado da pessoa será “levantado” para as devidas “correções espirituais”. Um “mapa espiritual” é elaborado após as sessões de regressão psicológica. O líder, então, tem em suas mãos informações importantes a respeito de seu discípulo e pode usá-las para orientar sua vida. Cria-se, com essa prática, um forte vínculo de dependência do neófito com o líder do grupo.
O grande problema são as pessoas que lidam com isso. Geralmente não são profissionais da área da saúde e, portanto, não têm o preparo adequado para lidar com os imprevistos que certamente surgirão nas sessões de regressão psicológica. Os prejuízos em termos emocionais podem ser irreparáveis.
A regressão está associada à cura interior.

(c) Cura interior.
 
A regressão psicológica prepara o campo para o que é chamado de “cura interior”. Nos encontros, procura-se explorar a experiência pré-natal, infância, adolescência e juventude da pessoa “para assim, com a ajuda do Espírito Santo e a Palavra de Deus, ministrar libertação e sanidade interior ao novo (convertido)”. [6]Assim, pretendem que problemas como a rejeição na gravidez, na infância ou na adolescência recebam tratamento espiritual durante as sessões de regressão e de cura interior nos encontros do G-12. O problema é o mesmo da regressão psicológica: não há garantias de que as pessoas sejam curadas por esse método, até porque os responsáveis pela “ministração” muitas vezes não são habilitados para isso.

(d) Deificação do homem.
 
LIMA trata do assunto da deificação do homem em sua obra no capítulo três sob o interessante título “A louca mania de querer mandar em Deus”.[7] Segundo esse autor, a palavra de ordem nos encontros é: “Eu determino…”, “Eu declaro…”, ou “Eu ordeno… em nome de Jesus Cristo”. Ele mesmo registra o seguinte (sem citar a fonte):
Toda a estrutura do animismo, feitiçaria e demonismo consiste exatamente na busca de controlar, manipular, domesticar forças sobrenaturais. [8]
Assim, conclui-se que essa atitude espiritual tem mais ligações com as religiões pagãs, onde os sacerdotes imaginavam poder controlar as suas divindades por meio de fórmulas mágicas ou encantamentos.
Essa relação entre o homem e o sagrado encontra luz na descrição que RUDOLF OTTO [9] faz sobre o numinoso. Para OTTO, o numinoso ou o sagrado é o mysterium tremendum et fascinans. Esses três elementos são presentes na religião, sendo que: (a) mysterium é o Outro que atrai e repele ao mesmo tempo. Ele é transcendente e imanente. Distante e presente. É totalmente desconhecido; (b) tremendum: o temor, a majestade, a energia e (c) fascinans: a atração pelo sagrado. Ou seja, ao mesmo tempo em que o homem teme o sobrenatural, ele é atraído pelo mesmo e vai ao seu encontro, procurando interagir com o sagrado.
O movimento G-12 oferece esse contato com o sobrenatural através da deificação do homem, que o coloca praticamente em pé de igualdade com Deus.
(e) Confissão positiva.
Um dos exemplos mais destacados que contribuem para a afirmação que o G-12 abraça a doutrina da Confissão Positiva de Kenneth Hagin é o uso do termo grego rhema (palavra). Na língua grega há dois termos para o vocábulo “palavra”: logos e rhema. Os líderes do G-12 – bem como outros neopentecostais – fazem questão de distinguir os dois termos: rhema é a palavra que os crentes usam para decretar ou declarar e logos é a palavra da revelação de Deus (que pode incluir a Bíblia). É nesse termo que reside o poder de mudar as coisas. O crente pode abençoar ou amaldiçoar alguém se utilizar o rhema. ROMEIRO entende que o uso do “poder” do rhema pode ser comparado ao abracadabra dos meios mágicos.
Dentro desse item temos também a renúncia, que é a “rejeição aos conceitos, hábitos e costumes da vida cristã que até então se professava”. [10]Como os gedozistas dão muito valor ao poder da palavra proferida, a renúncia se torna uma forma de se “firmar” na visão, ao mesmo tempo em que se despreza todo o histórico de vida espiritual da pessoa. Assim, por vezes muitos invalidam sua experiência de conversão e a validade de seu batismo anteriores ao contato com a visão dos 12.
(f) Teologia da Prosperidade.
A afirmação de que Deus é o “dono de todo ouro e de toda prata” torna seus filhos os herdeiros de toda a riqueza material que puderem alcançar em vida. Aliás, os discípulos não são chamados de “filhos de Deus”, mas de “filhos do Rei”. Uma exagerada confiança na prosperidade material é a característica dessa teologia. O “ter” é sinônimo de fé legítima e de aprovação divina.
A Teologia da Prosperidade não diz respeito apenas à riqueza material, mas também à saúde física perfeita. As enfermidades são sinais de pecado ou de domínio satânico. Por isso, o doente, seja convertido ou não, precisa passar por “libertação”, ou seja, precisa ser exorcizado para gozar a vida como filho do Rei.
(g) Triunfalismo.
O triunfalismo é o modo de pensar que está muito ligado à Confissão Positiva e à Teologia da Prosperidade. Lima ensina que “o triunfalismo, em geral, faz as pessoas pensarem de si mesmas além do que realmente são”. [11]Cria uma espécie de supercrentes. O texto bíblico predileto dos triunfalistas é aquele que fala sobre a promessa de Deus em permitir que seu povo seja “cabeça e não cauda” (Dt 28:13). A fragilidade da natureza humana é desprezada. Nenhuma derrota é admitida. Nenhum fracasso. Isso seria sinal de falta de fé. O perigo desse modo de pensar está nos possíveis prejuízos gravíssimos para a saúde espiritual, mental e física das pessoas envolvidas.
(h) Guerra espiritual.
O homem quando passa por crises tem a tendência de responsabilizar alguém ou algo pelas adversidades da vida. No G-12, o diabo é o principal culpado pelo sofrimento humano. Daí a necessidade de guerrear contra ele e, para tanto, é necessário equipar-se militarmente contra as hostes infernais. Demônios são identificados (praticamente são invocados) e o exorcismo se processa mediante uma pantomima mística: punhos cerrados, gritos de guerra, etc. Assim, nessa “guerra”, o homem deixa de ser vítima do ataque demoníaco e passa a ser um “guerreiro espiritual”.
Há tanta preocupação com a pessoa e obra do diabo que o movimento praticamente o coloca em pé de igualdade com Deus. Essa perspectiva maniqueísta distorce o conceito da Onipotência de Deus.
A responsabilidade humana pelo pecado também é praticamente descartada. Assim, por exemplo, aquele que adulterou, na verdade não foi diretamente responsável pelo seu pecado, mas sim o “espírito maligno do adultério” que precisa ser exorcizado. E esse exorcismo, ou “libertação”, precisa ser realizado tantas vezes quantas forem necessárias até que a pessoa se torne livre da ação do maligno em sua vida.
Outras práticas na guerra espiritual travada nos encontros: queima de objetos, roupas, livros que possam estar de alguma maneira “ligados” aos demônios, utilização de óleo, fórmulas especiais para exorcizar certos demônios, por exemplo, a necessidade de se conhecer o nome do demônio que está possuindo a pessoa, etc. Aliás, essa “necessidade” de se identificar o demônio que atormenta a vida de alguém pelo nome, para então exorcizá-lo, cria uma certa neurose que LIMA chamou de neurose da sensibilidade extrasensorial. [12] Trata-se da tendência do indivíduo em demonizar tudo que está ao seu redor. Em outras palavras, ele “vê demônio em tudo”.
(i) Maldição hereditária.
A maldição hereditária é aquela que acompanha uma família através das gerações, e que se originou com uma palavra (rhema?) contrária proferida por autoridade espiritual que “autorizou” o diabo a prejudicar alguém e sua descendência ao longo do tempo. Assim, se em uma família existe um alcoólatra, conclui-se que sempre houve e haverá um histórico de alcoolismo em suas gerações, porque um ancestral com autoridade espiritual amaldiçoou sua família, liberando o diabo para causar tais danos. Daí a necessidade de se “quebrar” essa maldição através dos rituais exorcistas. O espírito maligno familiar é invocado para declarar sua missão, quem o invocou e assim ser expulso da vida daquela família.
As pessoas também são obrigadas nos encontros a confessar seus pecados até mesmo cometidos no ventre materno para quebrar os vínculos do passado. Pode-se confessar pecados cometidos por antepassados para que haja a quebra da maldição.
Todas essas crenças contrariam a Palavra de Deus (veja 2 Co 5:17; Jr 31:29- 30; Ez 18:2-3, 20).
(j) Os encontros.
Os encontros são assim classificados: (1) pré-encontro: palestras preparatórias para o encontro; (2) encontro: retiro espiritual de cerca de 3 dias e (3) pós-encontro: dura cerca de 3 meses onde são oferecidas palestras para consolidação do que foi aprendido no encontro.
Os encontros estão envoltos em mistério para quem nunca participou deles. É vedado ao adepto do G-12 revelar o que acontece nesses encontros. “O encontro foi tremendo!” é a única informação permitida para conhecimento público sobre o evento.
Tudo o que vimos anteriormente se pratica nos encontros promovidos pelos adeptos do G-12. Os encontros são:
Retiros de três dias, durante os quais o novo crente compreende a dimensão exata do significado do arrependimento, recebe cura interior e é liberto de qualquer maldição que tenha imperado em sua vida. Logo a seguir se capacita como guerreiro espiritual, com a ministração do enchimento do Espírito Santo. […] mediante conferências, palestras, vídeos e práticas de introspecção, se leva o novo convertido ao arrependimento, libertação de ataduras e sanidade interior.[13]
O pr. Valdir Stephanini, da PIB de Cidade da Serra –ES, em sua Análise crítica do Movimento G-12, percebeu que os encontros do G-12 têm sua inspiração nos antigos cursilhos da Igreja Católica. Ele escreve:
Falando sobre o Cursilho (que corresponde ao encontro do G12) o ex-padre Aníbal afirma: “consiste nos três dias, geralmente de Quinta a Domingo, de encontro pleno, atual e comunitário de cada pessoa com o fundamental católico num ambiente de intensa emoção visando cursilhizar os participantes para integrá-los no movimento. […] crises de choro provocadas com artifícios, clima próprio e nos moldes fascistas para condicionamento psicológico dos participantes aos objetivos clericais” (p. 22). “5 meditações, e há palestras de mais de 2 horas cada uma” (p. 23). (Citações do livro Os Cursilhos de Cristandade por Dentro do Dr. Aníbal Pereira dos Reis; São Paulo: 1973).[14]
O método dos encontros não é, portanto, nova revelação.
Mas segundo os gedozistas tradicionais, os encontros promovidos no Brasil sofreram alteração em comparação ao modelo de Castellanos. Na Colômbia, “os encontros visam o evangelismo e o discipulado (sic) de novos convertidos e a preparação para a vida em células. Entretanto, ao ser transplantado para o Brasil, parece que o Movimento perdeu sua originalidade e os objetivos passaram a ser outros, focalizando especialmente os crentes, independente de sua denominação”. [15]
Essa distorção tem sido motivo de críticas entre os próprios adeptos do movimento. Segundo os gedozistas conservadores, os encontros são apenas uma parte da visão dos 12 e não são o fim em si mesmos.
II – CONSIDERAÇÕES FINAIS.
Mas ponham à prova todas as coisas e fiquem com o que é bom. 1 Ts 5:21 (NVI)
Nossa Convenção Batista Brasileira manifestou sua posição contrária ao movimento em declaração firmada em 23.10.2000, no Rio de Janeiro. [16] Está, portanto, muito claro para nós, batistas, que o G-12, com suas práticas e ensinos já considerados, não pode ser a “única solução para a salvação das almas” e nem a última resposta para a Igreja do século XXI.
No entanto, devemos respeitar e amar os irmãos que aderiram à visão dos 12. Nós nos opomos à visão dos 12 e não às pessoas. Não podemos levar a discussão para o campo pessoal. Apesar desse nosso amor, não podemos, porém, mudar nossa opinião contrária ao G-12 porque rejeitamos suas ênfases teológicas e práticas estranhas e antibíblicas.
Mas é preciso reconhecer que apenas rejeitar o Movimento por sua fragilidade doutrinária não é atitude inteligente. Como o próprio apóstolo Paulo nos ensina, devemos provar tudo e ficar com o que é bom. Assim, há, sem dúvida, assuntos importantes para nós, batistas, que foram e estão sendo tocados pelo Movimento G-12 e que precisam ser levados em conta em nossa reflexão pastoral.
Em primeiro lugar, creio que toda a controvérsia causada pela visão dos 12 nos leva a pensar sobre o significado do discipulado para a Igreja de Cristo. Não importa o método do discipulado, se individual ou em grupo de 5, 10, 12 ou 100 pessoas. O que precisamos é cumprir cabalmente a Grande Comissão que inclui não somente o evangelizar como também o fazer discípulos (Mt 28:19-20). O discipulado também envolve a construção de relacionamentos pessoais. Isso é de valor fundamental, pois vivemos numa cultura de natureza tão individualista que facilmente promove a solidão entre as pessoas. Com tanta carência de relacionamentos profundos, o discipulado na igreja poderia ser, por exemplo, a alternativa para o problema da solidão. Outros problemas receberiam tratamento nas reuniões de pequenos grupos de discípulos. Para CLINEBELL, [17] a renovação e o enriquecimento de relacionamentos íntimos pessoais constituem aspectos importantes para a cura das pessoas. E ainda mais: o discipulado contribuiria para o crescimento sadio da Igreja.
Podemos também considerar o valor positivo dos encontros. Obviamente, não aprovamos o que se faz nesses encontros. Mas seria interessante pensarmos sobre a promoção de verdadeiros encontros espirituais em nossas igrejas, que envolvam principalmente os novos convertidos. Neles, poderíamos oferecer os pontos fundamentais da sã doutrina (nada de quebra de maldições, libertação, regressão psicológica, cura interior), além de outras informações importantes sobre nossa denominação. E é claro, estabeleceríamos uma maior comunhão com os novos irmãos.
Em segundo lugar, a agitação espiritual promovida pelo G-12 nos faz refletir sobre a necessidade de um avivamento genuíno no meio da Igreja. Observemos a avaliação dos pastores presbiterianos que, quando estudaram o G-12, afirmaram o seguinte:
Reconhecemos a necessidade de um avivamento genuíno no meio de nossa denominação para reacender a chama vocacional de pastores e líderes desestimulados e decepcionados vivendo uma mesmice espiritual agonizante; um avivamento genuíno da Palavra que traga o poder da cruz sobre a vida de pecado dos crentes cuja ética cotidiana se mistura com a normalidade social; um avivamento que restaure a vida das famílias e dos casais; um avivamento que coloque a paixão por evangelização tão rarefeita em nossas comunidades; […] um avivamento que contradiga com a vida todas as doutrinas do evangelho de liquidação já presente no comércio da fé. [18]
Embora esses pastores tenham avaliado a sua própria denominação, creio que essa necessidade de avivamento deva também ser reconhecida por nós, batistas. As características do verdadeiro avivamento são, segundo o pastor RUSSELL SHEDD, [19]a adoração contínua, a comunicação sadia entre os discípulos, o serviço prestativo e humilde e um espírito grato, conforme Ef 5:19-21. Isso precisa ser buscado por nós, pastores, para que nossas igrejas experimentem um genuíno avivamento.
Em terceiro lugar, o movimento nos faz pensar sobre a inquietação que atinge o nosso povo por conta de tantas lutas que sofrem em sua vida diária. Será que muitos não estão se enveredando pelos caminhos do G-12 porque não estão encontrando respostas para os seus dramas em suas próprias igrejas? O que nós, pregadores, precisamos fazer para, sem abrir mão do sermão bíblico, apresentar tais respostas que venham ao encontro dos corações sedentos por consolo? A respeito disso, LIMA nos exorta:
Precisamos, portanto, e com muita urgência, fazer uma nova leitura das necessidades reais do nosso povo e da sociedade ao nosso redor e pensar num meio de tornar as Boas Novas do Evangelho mais convincentes para o homem atual. [20]
Por último, o G-12 nos faz refletir sobre a qualidade do ensino doutrinário em nossas igrejas. BATISTA considera o seguinte:
É importante lembrar que o movimento revela a fragilidade do ensino nas igrejas evangélicas. Um vento de doutrina, com ensinos tão destoantes da Escritura, sequer é notado por membros dessas igrejas. O problema se agrava ao considerarmos que novas ondas nos esperam. Que Deus nos conduza à fidelidade à sua Palavra e à responsabilidade de lutar pela fé evangélica (Jd 3-4). [21]
Que valor damos ao ensino doutrinário em nossas igrejas? Investimos nos professores e alunos da Escola Bíblica Dominical? Estamos realmente acompanhando os nossos vocacionados? Incentivamos o nosso povo a ler e estudar a Bíblia? Eles estão lendo bons livros? Que tipo de literatura “evangélica” está nas mãos dos membros de nossas igrejas? Nossa responsabilidade como pastores-mestres é muito grande e se negligenciarmos a nossa missão, o preço a ser pago será muito alto. Poderá custar o nosso ministério.
Bem, creio que o G-12, como qualquer outra novidade, vai passar logo e desaparecer, assim como tantas outras ondas no meio cristão. Outros novos movimentos surgirão. Resta saber se aprendemos o suficiente com as experiências que tivemos com o G-12 para proteger nossos rebanhos dos futuros ventos das heresias.
Que o Senhor da Seara nos ajude.
[1]CASTELLANOS. Profecia no G-12, dada em Porto Seguro. . 01.03.2004.
[2]ROMEIRO, opus cit, p. 5.
[3]. 01.03.2004.
[4]DESROCHE, opus cit, p. 34.
[5]LIMA, opus cit, p. 45.
[6]CASTELLANOS apud SALGADO, opus cit, p. 3.
[7]LIMA. Opus cit, p. 49-55.
[8]Idem, idem, p. 49.
[9]OTTO, Rudolf. O sagrado. S. B. Campo: Imprensa Metodista, 1985.
[10]Ibidem, p. 40.
[11]LIMA, opus cit, p. 71.
[12]Idem, idem, p. 81.
[13]CASTELLANOS apud SALGADO, op. cit, p. 1.
[14]Fonte: . 01.03.2004.
[15]Fonte: idem, idem.
[16]CONVENÇÃO BATISTA BRASILEIRA. Movimento G12. . 01.03.2004.
[17]CLINEBELL, Howard J. Aconselhamento pastoral: modelo centrado em crescimento e libertação. S. Leopoldo, RS: Sinodal, 1987, p. 51.
[18]G-12: uma tentativa de análises. . 01.03.2004.
[19]SHEDD, Russell P. A Igreja Avivada. Sermão pregado na IB Jdm IV Centenário, SP. 08.12.90.
[20]LIMA, Paulo César. Op. cit., p. 31.
[21]BATISTA, Jôer C. Movimento G-12: uma nova reforma ou uma velha heresia? Fides Reformata 5/1 (2000). . 01.03.2004.

FONTE www.cbesp.org.b

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