
“Como
eu sei os planos de Deus para minha vida? Como sei se estou cumprindo a
vontade dEle para mim?”. No período seguinte à minha conversão, essas
perguntas me assombraram. Eu era néscio, novo convertido, mal tinha pego
um ou dois bons livros teológicos para ler (já tinha lido muita
besteira teológica, como livros de pastores da TV e de editoras
evangélicas ruins: bons livros, quase nada) e essa questão me intrigava.
Todos diziam que eu tinha de seguir a vontade de Deus. Mas como fazer
isso se o Altíssimo não aparecia para mim em meio a um raio de luz ou
uma sarça ardente e dizia o que esperava para a minha vida? Era um
mistério para um neocristão como eu. E eu vivia perguntando a Ele. Eu,
um pentecostal sem instrução, aguardava uma revelação, uma profecia ou
algo do gênero que viesse a me mostrar se deveria virar para a esquerda
ou a direita. Até um anjo aparecer à noite em meu quarto servia. Mas
nada. Nem uma resposta. Nenhum dom sobrenatural. Nenhuma aparição divina
entre gelo seco. Só o silêncio.
A resposta veio. Mas não como eu esperava. Não por meio de um
fenômeno sobrenatural. Não trazida pelo varão de branco numa bandeja de
prata andando no meio da congregação enquanto a igreja cantava um
corinho de fogo. E quando ela veio eu aprendi o que todo pentecostal –
como eu sou até hoje – deve aprender: as respostas de Deus aos nossos
questionamentos só numa minoria ínfima das vezes chegam por meio de
“vasos” ou “varoas de fogo”. Elas vêm pela ministração da Palavra. Ou
seja: pela pregação e a exposição da Bíblia.

Não
é muito empolgante, eu sei, nos emocionamos, choramos e nos arrepiamos
muito mais quando alguém dá um berro, põe a mão em nosso ombro e nos
fulmina com aquela voz empostada que só um profeta dos mantos de fogo
sabe fazer:”Eeeeeeeeeeeeiiiiiiiiiiissss que te diiiiiiiiiigo, servo
meu!!!”. Ah! Quem não gosta? O Altíssimo em linha direta conosco! Coisa
boa demais. Só que em 99,99% das vezes não será assim que você terá as
respostas de Deus: será pelas Escrituras. Creio nos dons? Claro, são
bíblicos. Creio que Deus fala por profecia ou pela palavra de
conhecimento (a popular “revelação”)? Claro, é bíblico. Mas também creio
que as maiores respostas Deus já deixou preparadas e embrulhadas para
nós na Bíblia Sagrada. E o tempo que muitos perdem indo atrás de
profetas e similares seria muito mais bem aplicado se dedicado à leitura
estudada da Palavra revelada de Deus. Quando o Senhor quer falar por
meio dos dons Ele fala. Nós não temos que correr atrás. Ele tomará a
iniciativa. Ficar correndo atrás disso deixando a Bíblia na prateleira
pegando poeira denuncia um cristão mal discipulado.
Mas voltemos ao meu questionamento de novo convertido. Entenda que
saber
para onde Deus queria que eu fosse, qual era sua vontade para minha
vida, que rumo eu devia tomar, qual seu plano para mim era algo muito
importante na minha concepção, algo que eu vivia me perguntando e
perguntando a Deus. Eu queria saber o futuro! Queria saber os desígnios
do Todo-Poderoso para os anos a seguir! Queria ser o dono do
conhecimento. Afinal, conhecimento é poder e eu me sentia aflito por não
deter o poder de saber o meu futuro. Que bobo eu era.

Como
disse, a resposta veio. Mas quando, onde e da forma que eu menos
esperava. E junto com uma bela lição. Jesus me converteu em 1996. Em
1999 viajei a Nova York num passeio de férias. Repare: foram três anos
perguntando ao Senhor como
saber a Sua vontade e os Seus planos
para a minha vida, sem obter uma resposta. Ao chegar à cidade, fiquei
hospedado na casa de um amigo. Meu sonho e objetivo de longa data era
visitar as igrejas de negros do Harlem, onde queria ver o canto gospel
de raízes, sentir o cheiro do povão, me mesclar com a celebração em
templos onde as mulheres se vestem como Whoopi Goldberg no filme “Ghost”
e os homens gritam “Hallellujahhhhhhhh!” e “Amennnnn!!!” (pronuncia-se
“êi-mén”) com aquelas vozes poderosas de Ray Charles. Esse era meu
sonho. Poder gritar “Oh, yes, Lord!!!” no meio deles. Sim, eu tinha
sonhado muito com aquilo.
Estava de férias, desligado da questão de “Deus, para onde eu vou?”.
Minha dúvida naquele momento era saber em que estação de metrô descer
para chegar ao World Trade Center (sim, eu subi ao terraço-mirante de
uma das Torres Gêmeas dois anos antes de elas desaparecerem). Estava
prestando atenção apenas no meu passeio. Domingo se aproximou e
perguntei ao meu amigo como fazia para encontrar uma boa igreja no
Harlem onde pudesse experimentar o gospel de raízes. Ele me respondeu
que não fazia ideia. Mas que havia uma igreja muito visitada no centro
de Manhattan, a Times Square Church, e me deu as dicas de como chegar
lá. Eu queria ir para o Harlem, mas, pela falta de informações, me
conformei e acabei mesmo indo para aquele antigo teatro da Broadway,
onde anos antes havia estreado o musical “Jesus Cristo Superstar” e que
agora havia sido comprado, mal sabia eu, por ninguém menos que David
Wilkerson, o celebrado pastor e autor do clássico “A Cruz e o Punhal”.
Era a sua igreja.

Só
descobri isso quando, chegando domingo de manhã ao santuário, vi aquele
senhor de cabelos brancos atravessando a rua ao meu lado. “Caramba, é o
David Wilkerson!”, me assustei. E fui em frente. Pensei com meus
botões:”Se é essa celebridade quem vai pregar, de um famosão desses só
pode vir uma palavra fogo puro! Ô Glória!”. Entrei naquele lindíssimo
santuário, com membresia da alta sociedade novaiorquina, só gente muito
bem vestida, as cortinas vermelhas fechadas. De repente elas se abriram e
um belo coral trajando becas amarelas e roxas começou a cantar, as
letras projetadas num vidro preso no alto do santuário. Eu só me
impressionava pela grandiosidade do lugar, pela tecnologia, e derramava
lágrimas ouvindo aqueles gringos cantando “Jesus, lover of my soul”. Não
estava nem aí naquele momento para “saber quais são os planos de Deus
para minha vida”. Estava deslumbrado com tudo ao redor e excitadíssimo
por poder ouvir David Wilkerson pregar. Chegou enfim a hora da pregação e
eis que sobe ao púlpito… quem?! Quem?! Quem?!
O pastor auxiliar.
Hm. Tá. Ok. É, né, fazer o quê. Afundei na cadeira.

Wilkerson sentado, eu decepcionado e o Pastor Carter Conlon (
foto)
ao microfone. E foi quando aconteceu. Aquele homem sem fama ou
best-sellers escritos, no meio de minhas férias, a milhares de
quilômetros dos profetas mais usados da minha igreja local, sem que eu
estivesse nem aí no momento para os planos de Deus para minha vida…
pregou a resposta à pergunta que eu vinha fazendo há 3 anos. Foi uma
mensagem simples. Sem grandes argumentos. Sem muito brilhantismo. Puro
feijão com arroz espiritual. Mas que saciou uma fome que durava cerca de
mil dias. Não houve um grande coral de anjos cantando enquanto o Céu se
abria, fogos espocavam e a grande revelação vinha direto do sétimo,
oitavo ou nono Céu numa carruagem puxada por cavalos de fogo e escoltada
por arcanjos e querubins. Nada disso. Em voz calma e baixa, Pastor
Conlon simplesmente disse, como quem comenta um fato corriqueiro com um
amigo:
- Você quer que os planos de Deus para
tua vida se cumpram? Quer que a vontade dEle para você torne-se
realidade? Saber é difícil, nós mesmos nunca saberemos. Mas Deus sabe.
Não é uma questão de saber, mas de deixá-la se cumprir. Então, se você quer sair daqui e ir para o Brooklyn sem saber o caminho, o que você faz?
Pega um ônibus que tenha ao volante um motorista com as informações
sobre como chegar lá. Depois basta ficar ali, perto dele, até que chegue
ao seu destino. Do mesmo modo, se você quer cumprir o plano de Deus
para sua vida, tudo o que tem a fazer é ficar perto de quem sabe como te
conduzir até seu destino. Fique sempre perto de Jesus e todos os planos
dEle se cumprirão na sua vida. Você não precisa saber. Basta
estar junto a Deus e esperar, pois, um dia após o outro, todas as coisas
cooperarão para que a vontade dEle se cumpra em você.
Simples. Bíblico. Silencioso. Pura explanação eficiente e inteligente
das verdades bíblicas. Naquele momento, eu congelei. Primeiro, porque
percebi que Deus tinha respondido à minha pergunta. Segundo, porque foi
de modo totalmente diferente de como eu esperava. Terceiro, porque
mostrou-me que eu estava fazendo a pergunta errada: o importante não era
“saber”, mas “o que fazer”. Fiquei estarrecido.
Fui embora da Times Square Church com um livro com pregações de David
Wilkerson e uma fita k-7 com mensagens dele debaixo do braço, cortesia
para os visitantes de primeira vez. Mas, mais importante do que isso,
saí dali com uma autêntica
experiência com Deus. Sim, Deus
tinha falado. E me dado uma bronca ao mesmo tempo. Fiquei feliz por
finalmente conhecer a resposta à minha pergunta: para cumprir o plano, a
vontade de Deus em minha vida, tudo o que eu tinha de fazer era estar
junto a Ele a cada dia. Mas saí humilhado por ver o tamanho da minha
prepotência. Por achar que seria da minha forma que a resposta viria. E
foi quando entendi algo que é indissociável da pessoa do Senhor: sua
absoluta soberania sobre tudo o que ocorre no mundo, as coisas boas e as
coisas más.

Saí
dali sem ter realizado o sonho de ouvir o gospel dos negros do Harlem,
pois a Times Square Church é uma igreja de brancos, com louvores para
brancos ao estilo dos brancos. Mas dei de cara com uma estação do metrô.
Parei. Pensei. E disse a Deus: “É com o Senhor”. Embarquei e fui para o
Harlem, sem ter noção de onde ia e totalmente às cegas. Era hora do
almoço, chance mínima de realizar meu sonho, de ouvir o autêntico canto
gospel de raízes. Saí sozinho, no meio do bairro, e comecei a andar por
suas ruas. Em pensamento, orei: “Senhor, não conheço nada ao meu redor.
Não tenho ideia de onde ir. Mas estou contigo, conduze-me”. Foi quando
dobrei uma esquina e dei de cara não com uma igreja, mas com um palco
montado numa rua interditada, onde 20 igrejas haviam se reunido para um
dia de louvor a Deus, com corais, grupos, duetos, quintetos, solistas e
os mais variados tipos de autênticos músicos gospel negro de raízes se
sucedendo na plataforma. Sentei quietinho e isolado numa cadeira, o
único latino em meio a centenas de negros, e vivi ali em êxtase um dos
dias mais inesquecíveis da minha vida, com todo tipo de louvor do Harlem
sendo entoado ao longo de toda uma tarde. Gozo para minha alma e a
realização de um sonho, multiplicado por 20.
Não precisei
saber para onde ir. Mas Deus conhecia meu
desejo e tinha seus planos para minha tarde: dar-me de presente muito
mais do que eu tinha pedido. Deleitei-me no Senhor e ele concedeu o
desejo do meu coração. Tudo o que precisei fazer foi estar junto a Ele,
dar um passo após o outro e dizer: “Pai, eis-me aqui. Leva-me aonde Tu
quiseres e cumpre em mim a Tua vontade”.
Desde então não busco saber o meu futuro, vivo um dia após o outro. E
se hoje olho para trás e vejo como Deus conduziu minha vida nos últimos
13 anos, desde aquele dia de maio de 1999, sorrio e percebo claramente
como os planos dEle para mim têm todos se cumprido. O que Ele reserva
para meus próximos 13 anos? Sinceramente não sei. E sinceramente não
faço questão de saber. Apenas entrego meu caminho ao Senhor, confio nEle
e sei que o mais… Ele fará. Confie nisso também.
Paz a todos vocês que estão em Cristo.
fonte: Blog do Mauricio Zagari
http://apenas1.wordpress.com/
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